Quando
se entra em um terreno desconhecido, e é tímido, o mais comum é se retrair. Eu
me prendi ao entrar naquele quarto. Já havia me travado ao pisar na casa e dar
de cara com aquele ser divino de longos cabelos pretos e pele branca, olhos
escuros e lábios carnudos.
-
Ele tá no quarto, entra. Mãe, que você vai fazer de lanche?
Gritou
enquanto dava as costas. Saiu desfilando com as pernas roliças mal escondidas
por um short jeans. Entrei. Cumprimentei a mãe, reparei os porta-retratos.
Pessoas mudam. Caminhei lentamente até o quarto e abri a porta. Ele estava no
computador, conversamos um pouco e eu fiquei a ver sua estante. Parei na
segunda prateleira e fixei o olhar naquilo. Era prata, estava enferrujada. Já
teve seus dias de glória, mas continuava tão estonteante quanto à irmã caçula
que me recebeu a porta.
-
Posso?
Ele
fez um sinal com a cabeça e emendou com alguma piada a respeito do tétano. Pelo
pouco que o conheço, isso, com toda certeza, é um sim. Voltou-se pra frente e eu
fiquei ali. Paralisado com ela nas mãos. Não pesava muito, apesar disso, eu
tremia como vara verde em noites de temporal. Levei suavemente a boca e soprei.
Meu primeiro dó. O gosto metálico se apossava dos meus lábios e eu conseguia
sentir o dilatar da minha pupila. Suguei meu primeiro fá. As mãos agiam com
tanta naturalidade.
É
como se eu tivesse nascido pra isso. Agora só faltava avisar o resto do mundo.