28 de jan. de 2013

Nota aos colegas.



                É engraçado como somos rapidamente julgados quando expressamos nossa opinião. Olha que esse é um tema bem recorrente, principalmente quando se trata de humor.
                Recentemente um caso a parte me chamou a atenção, postei no Facebook a seguinte frase: “Rio Grande do Sul ensinando o Brasil a assar uma carninha”.
                Sou de família gaúcha. Meus avós são gaúchos, tios e vários primos. No Brasil há a cultura das churrascarias gaúchas espalhadas aleatoriamente nos estados brasileiros. É possível se achar uma dessas na Bahia. O contexto dessa frase, porém, fez com que meus amigos e pessoas que faziam parte do meu perfil ficassem extremamente irritados e ofendidos.
                Na noite anterior, em uma boate na cidade de Santa Maria duzentos e alguns jovens morreram. Hora nenhuma na frase eu me referi necessariamente a essa tragédia, mas mesmo assim fui julgado por isso. Engraçado. Quem é o babaca da história?
                Este seria um ótimo argumento para todos os comentários, mas eu quis deixar subentendido o ocorrido na boate. Mea maxima culpa. Você se pergunta, ou não, o porquê disso.
                Bom... Nós não somos especiais. É aquele discurso Palahniukiano batido já visto internet afora. Eu assumi a postura de quem não se importa, porque de fato eu não me importo. Se você não sofreu diretamente com aquilo, você também não tem razões para se importar. Verdade seja dita.
                “A sensibilidade é o que nos torna humano.
                Besteira. Você se sensibilizou porque pensa que poderia ter sido com você. Eu percebi nos discursos que me repreendiam as seguintes frases: E se fossemos nós? E se fosse naquela boate que a gente frequenta? E se fosse minha filha? E se fosse a sua mãe chorando? E se fossem nossos amigos?
                Vou contar um segredo agora: Não era.
                Não aconteceu na boate que nos frequentamos, não era a minha ou a sua mãe. Agora eu conto outro segredo, que você não quer assumir: Você não liga pra eles. Você diz que acha ruim, porque se colocou no lugar deles, afinal é a mesma faixa etária e de repente, num domingo nublado, percebeu que não é imortal e acidentes acontecem.
                Estamos todos fadados a morrer, porque fazer disso grande coisa?
                Quem é babaca de fato? Eu que assumo o que penso e sinto ou você que veste o manto da solidariedade de momento?
                O que ocorreu foi de fato uma tragédia, eram jovens e toda essas coisas que a sessão sensacionalista vai dizer bem melhor do que eu, mas isto na minha vida foi só uma nota de rodapé, no máximo. Se você tinha parentes ou é um sobrevivente daquilo, boa sorte. Procure os culpados e faça justiça, agora se você, caro leitor, é só mais um reclamão que adora dar pitaco na opinião alheia, cale-se e recolha-se a sua insignificância.
                Pois se podem colocar no facebook fotos de pessoas queimadas, eu posso ao meu bel prazer falar da minha insensibilidade.
                E se no final das contas, continuam não satisfeitos, Santa Maria precisa de voluntários em diversas áreas, pegue o próximo voo ou ônibus.  

26 de jan. de 2013

Bom dia Margarida



                Eu poderia dizer que era casa e era jardim, mas na verdade eram apartamentos e os olhares não aconteciam nas varandas.
                Era tudo muito novo.
                Era tudo muito simples. Veja bem Margarida, pode ser que amanhã eu tenha partido e encontre minha cidade prometida, ou você, quem sabe, volte a coçar suas feridas. Quem garante, também, que eu não tenha minhas próprias a cutucar antes de arrumar um meio de vida pra você, realmente, gostar de mim.
                Margarida, a gasolina já subiu o preço e as flores vão sempre brotar.
                Veja meu bem, pode ser que eu tenha de partir e quem sabe não acho a minha cidade garantida e um meio nessa amarga vida. Eu sei que você não gosta quando te beijo com gosto de suor na boca.
                Mas veja bem, se eu estiver na cidade proibida e arranjar um meio nessa amarga vida, Margarida, não há gosto de suor que te afaste, ou feridas que não nos aproxime, pode até o arco-íris mudar de cor e você me preferir com um gosto de sabão na boca, quem sabe eu não esqueço o seu endereço e começamos o fim.
                Veja meu bem, pode ser que eu arranje meio de vida pra você gostar de mim.

14 de jan. de 2013

Entra! Tá aberta.



                Entre amores há sempre um vazio, um eco. Quase amores que brotam ali e não vingam, o terreno é infértil pra isso, é necessário deixar descansar. A cabeça não é um campo tão fértil assim e amores são prejudiciais. Eles ferem a nascente, vão direto ao coração e fincam seus esporos.
                Aí vem a desintoxicação, grandes doses de álcool e trabalho, músicas altas, perfumes novos, usados quase como remédios homeopáticos, e, em casos extremos repouso absoluto em clausura.
                Entre amores há sempre esse vazio que dura horas ou anos, suja lençóis e a dignidade. Doses de amnésia seriam necessárias, como recuperar um dos dons mais preciosos da infância?
                Mas o tempo passa e sempre que um amor acaba e porteira do campo parece se fechar aí entra um novo amor e se estabelece ali, num pedaço pequeno, vai aos poucos se apossando até tomar conta de tudo.
                E não importa quanto tempo passe, entre amores há sempre esse vazio estranho na cabeça.

Com Trato



                Eu me pergunto como podemos ser, as vezes, tão cegos.
                Dessa vez - acho - que foi o inconsciente. Ela entrou em contato. Ligou primeiro e disse que precisava falar algo sério “No bar de sempre, às 11”. Ele ainda meio paralisado não disse nada e ao sinal da insistência dela soltou um breve e quase inaudível: “aham”.
                Aquilo revirou suas entranhas, martelava sua cabeça e zumbia, como abelhas, marimbondos, qualquer coisa peçonhenta com pequenas asas e muita velocidade. Até a mastigação do irmão mais novo na mesa da lanchonete tomava proporções supersônicas. Não terminou o whopper, até porque depois da segunda mordida o que ficou furioso foi o seu estômago.
                Acessou o e-mail e estava lá: “Leve impresso e assinado”.
                Esse tanto de atitude, vindo dela, incomodava.
                Na barriga era como se a revolução francesa tivesse agora sido enraizada na mente de suas lombrigas: “Prise de La Bastille, mes amours!” e brigavam. Não se sabia se a front era nas têmporas ou na bacia. As borboletas, há muito já foram abatidas, o que restava ali era um asco.
                Mal chegou em casa e correu até a porcelana. Batizou-a como melhor amiga e fiel companheira, pelo menos por aquele dia e aquela noite.
                Sentiu-se aliviado por não ter podido ir ao encontro. Ligou meia hora antes, da privada mesmo, entre uma merda e um arroto de azia, dispensava suavemente a nada pobre, e, até um pouco insensata, garota.
                No outro dia levantou novo em folha. Nada de ir atrás e tratou logo de jogar o dia anterior no esquecimento, lá naquele compartimento para dias estranhos que todos temos na mente. Comeu duas frutas no café, tomou uma xícara de chá e no almoço comeu um pedaço de carne além do normal.
                Nega confiante, o que se passou com seu corpo foi uma reação ao café do shopping. Ela não teve nada com isso, afinal: “até parece que homens são afetados por mulheres, pff!”

4 de jan. de 2013

O mundo continua girando.



                - Olha, não leva a mal o que eu vou falar agora, ou leva... (Interrompido)
                - Que foi?
                - A culpa não é totalmente sua, sério, pode acreditar. É só que... Não se ama sozinho. Isso é algo feito em dupla, tipo vôlei de praia e não ping pong. Sei lá... Posso estar muito enganado e eu quase sempre estou. Cansei de tudo, na verdade cansei de tudo que envolve você. Seus peitos até que são bonitos, de verdade, são as melhores tetas que eu já vi em anos. Hoje elas não me excitam mais. Nem uma ereção meia bomba, nadinha... É triste, eu sei disso...
                - Mas... (Interrompida)
                - Não tem essa de MAS, broto, acho que o mundo é assim meio injusto mesmo. A gente deixa de amar, sem essa de que amor é pra sempre. Eu ainda gosto de você, é seu rosto e sua atitude que me irritam, mas de vez em quando você é simpática e eu posso jurar que em algum lugar por aí, tem algo da menina ou mulher que me deixou de quatro. O problema é que ela raramente aparece e eu não lido bem com o desprazer. Sei que é meio de súbito, mas eu já tinha te avisado antes que não curtia suas atitudes...
                - Porra! Você comentou uma vez, no máximo duas.
                - E já foi demais...
                - Não acha que é imaturo da sua parte?
                - Acho que a vida é minha e os sentimentos também, se você fode com o que sinto por você é problema seu e não meu, mulher....
                (Silêncio)
                - Preciso da minha blusa de frio e aquela camisa de flanela...
                - Tá indo viajar?
                - Mais ou menos.
                - Aposto que é com aquela puta do teatro...
                - Ela não é puta, e na verdade eu to mudando.
                - Vai pra qual bairro?
                - Tô mudando de cidade...
                - Assim?! Do nada?
                - É!
                - Posso pelo menos perguntar o motivo?
                - Aqui não tem mais nada pra mim.
                - E eu?
                - Prefiro ir embora com o pouco da boa lembrança que ainda sobrou.
                - Nossa... Eu fui assim tão ruim?
                - É... Foi.