Acabei perdendo a senha desse blog e demorei muito tempo para recuperá-lo. Por isso estava postando em outro endereço. Recentemente estou com esse: https://cronicasdeumquartoazul.wordpress.com/
Clica aí. (:
O vagabundo, as feiticeiras e o guarda roupa
"Of course... He can live with the chaos"
30 de mai. de 2015
9 de set. de 2013
Frete de segunda a sexta.
Há
três anos que não se viam. Acabaram mudando, pessoas mudam. Ele, agora, tem
medo de morrer, malha, come bem. Parou de beber e tudo mais. Arrumou uma
namorada uns meses atrás, mas não deu muito certo.
Ela
trabalha, bebe regularmente e tem uma vida sexual ativa. Faz mochilão pelo
interior do Brasil e parou de consumir com a frequência que fazia.
Ele,
de fato, mudou. Igual só o coração disparando ao esbarrar despropositado, num
domingo ensolarado, com alguma foto dela. Aquela câmera, que ela esqueceu, tem
um efeito especial e não é o filme vagabundo.
Ele gosta.
Na verdade gosta mais da modelo
do que das fotos. Ele mudou de casa, também, igual só a vontade de ligar pra
ela quando chega às três da manhã do trabalho. Pois é... Ele agora trabalha.
8 de set. de 2013
Suícidio
- Você sabe o dia que Getúlio Vargas
morreu?
- Não...
- Tem que saber. Você faz faculdade, né?
- É, mas eu estudo teatro.
- Arrisca uma data...
- Agosto?!
- Isso! 24 de agosto de 1954. Eu tinha 15
anos e lavava o carro do meu professor. Morava na Sicília. Ouvi no rádio. Nunca
tinha escutado essa palavra, suicídio, não sabia o quê significava. Meu pai já morava no Brasil e eu pensava,
todos os dias, em vir pra cá. No final de setembro foi quando mudei. Voltei só
duas vezes. Fica difícil voltar quando se arruma mulher e filhos.
- Imagino.
- Você é de onde?
- Interior de Goiás.
- Minha esposa é de Rubiataba. Eu sinto
falta dos meus amigos. Essa dor nas costas tá me matando.
- Dormiu de mau jeito?
- Não, fui arrumar um cano da calha. Segunda
faço outra safena. Já tenho 4 e uma parou de funcionar.
- Boa sorte... Tão me chamando no balcão.
Preciso ir.
- Me traz uma água com limão quando tiver
um tempo?
7 de set. de 2013
Carta a ex namorada.
Você me estragou, eu era um cara
legal antes de você. Seu egoísmo foi fundo, me pegou na alma. Sabe aqueles
filmes em que uma simples gota de veneno coloca todo o barril em desuso? Pois
é, foi você comigo.
Não
se faz isso com pessoas predispostas a melancolia e com inclinação genética a
não se dar bem na vida. Hoje você desfila por aí, usando o manto da justiça,
pregando a igualdade, mas eu te conheci. Você não é desse jeito. Pode me dizer
que pessoas mudam, mas você sempre vai ser igual comigo. Asfixiante.
Eu
era legal antes de você.
Acreditava
na instituição do casamento e em constituir família. Você foi uma
grandessíssima filha da puta, e o pior foi que eu deixei você ser.
Endereçado a Irlanda.
Olha...
Eu sei que já te escrevi dizendo alguma dessas coisas, mas é que eu sou irmão
do meio. Me preocupo. É inevitável. Saia de casa, sério, a nostalgia é um
sentimento perigoso. A saudade vai sempre existir, isso não dá pra controlar,
mas dá pra decidir o que fazer com ela. Semana passada eu, por exemplo, enchi a
cara, já ontem, tomei açaí.
Isso
é algo importante, acho que uma das principais coisas que eu sempre digo. Não é
o que você sente, é o que você faz com isso. Estar longe pode ser um saco às
vezes, porém se você para e olha a situação com outros olhos, se permitir e
viver, você pode ter experiências fantásticas. Vai por mim, um “sim” bem falado
pode salvar seu mês.
Saber
entrar e sair de situações, e principalmente lugares, pode salvar sua vida. É
outra cultura, mesmo que seja parecida, ainda é outra e um passo em falso pode
ser perigoso. De início vai ser um pouco chato se policiar, mas lá pela quarta
vez se torna automático.
É
meio massante ficar repetindo tudo isso, é meu lado irmão falando mais alto.
Não quero te prender aqui e muito menos colocar empecilhos, quero que viaje e
ganhe o mundo. Assim como eu to ganhando.
5 de set. de 2013
Direto
Ontem,
enquanto treinava, imaginei o rosto dele no saco de pancadas. Quase destronquei
meu pé. Eram chutes que faziam o, pobre, saco bater contra a parede. Os socos
iam precisos na altura dos rins e das têmporas.
Uma
hora de surra.
Minha
guarda, eu mantinha alta. Bastante força em cada golpe. Precisão. É necessário
guardar e alimentar essa raiva. Como ele consegue? Até conhecê-lo eu era uma
zona livre de carma. Alguns amigos ainda afirmam que eu sou, mas eu o encaro
como meu nêmesis.
Como
ele ousa – sim, ousa – ter crises de ciúmes dela? Os dois podem ter se
encontrado há mais tempo, mas dar ordens? Será que ele, realmente, a conhece o
suficiente? Cada chute é pelo que fez a ela. Tão livre... Coitada.
Mesmo
que eu tenha voltado pra casa mancando e o saco tenha começado a se rasgar, não
poderia ter saído sem isso. Até porque se tivesse me encontrado com ele, e o
infeliz pensasse em rir para qualquer outra, eu não teria forças para me
controlar.
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