24 de mai. de 2013

(Quase) Verdade


                Eu que não mudo mais a temperatura do chuveiro no inverno.
                O morno do outono não satisfaz.
                Eu que não digo que sinto a sua falta como dizia antes, não me sirvo mais fartas doses de álcool e amor lascivo.
                Não sigo mais o instinto e nem me deito em camas desconhecidas.
                Eu que quando te vejo quase não respiro e nego os sentidos.
                Eu que não ardo mais em desejo e nem com a minha dura rigidez fálica satisfaço a vontade em flores alheias.
                Eu que não mudo mais a temperatura do chuveiro no inverno.
                Não mudo por não querer sentir nada quente e úmido, em mim, além de você.

You can't break our fall



                Gostaria de dizer, hoje, que entendo Cobain. Entendo mesmo. De admirar. Ernest, vejo, agora, que o fuzil é tão atraente quanto os seios da ruiva que mora na casa ao lado. Compreendo de verdade. Quando um dos, poucos, bons políticos brasileiros, o Tiririca, contrariando expectativa geral, disse que se sentia de mãos atadas e não tentaria reeleição – num tom triste – “Já fiz tudo que era possível” Ele também captou o mesmo que eu.
                É muita merda.
                Se sufocaram com ela e estou começando a me sentir como eles. É difícil dizer que não vejo saída. Sou jovem, eu vejo saída. É perceptível, ainda, há esperança. O fogo arde. Mas vai chegar um dia em que isso não existirá.
                Quando esse dia chegar nem os peitos da ruiva, a buceta interiorana, o uísque maltado e todo dinheiro do mundo será capaz de retirar a merda que afoga pessoas como Cobain. Talvez eu não seja como ele, e, a merda não me atinja. Porém, as coisas não tendem a mudar, pelo menos não na minha vida. Seguindo a linha de hoje, meu único motivo de esperança é pensar: Me juntarei a você, Hemingway, no inferno ou onde quer que se encontre todos aqueles que se afogaram e afogarão nos males do mundo.
                É triste pensar que como nós, existem milhares.

20 de mai. de 2013

Excesso de sinceridade



                Não se apaixone por mim. Não sinta nada, nem pena, ódio, amor, afeição. Nada. Simplesmente não compensa. Eu não sou talentoso, não tenho aptidão alguma, não toco bem e nem canto, não sou bom ator e tudo que escrevo gosto de classificar como: meia boca. Não cozinho bem. Se encher a cara, fosse esporte olímpico, porém, eu seria campeão. Talvez seja só isso. Isso e uma alta resistência ao frio. Eu não possuo o melhor pinto que você vai experimentar na vida, também não será o maior e mais grosso. Eu não sou especial, já tentei ser, mas não sou e não pretendo ser tão cedo. Eu sei que não vou acrescentar nada a sua vida e, também, não vou “sugar” o que você tiver de especial. Vou ser nulo, assim como bilhões de pessoas no mundo. Indivíduos que nascem, morrem e não dizem nada, não são notados ou, sequer, fazem falta. Não tem a ausência notada. Humanos que serão em vida como o angu. Sem sabor. Este sou eu, habilidades que não servem para nada, ideias utópicas e ultrapassadas. Só mais alguém que não se encaixa e passa batido.
Pode ser que eu te diga tudo isso na primeira noite, ou que você descubra com o passar do tempo. Eu, só, não sou especial, e, não há previsão alguma de que isso, algum dia, mude.  

18 de mai. de 2013

Querida L.



                Talvez nosso tempo tenha passado. Eu desisti de pensar em nós, até porque, foram tão poucas as vezes que existiram, de fato, um “nós”. Sou mesmo sentimentaloide e acreditava, até um dia desses, nesta coisa de sentimentos, mas é que tem acontecido muitas situações, tantas pessoas, lugares.
                Você é meu caos emocional, eu sei lidar com isso. A rotina sempre me fascinou, porém, me enjoo muito fácil dela. Estar perto é o que eu mais queria. É como dizem: “não se pode ter tudo que quer, mas as vezes se você olhar pode perceber que tem tudo que precisa”.
                Não gosto de pensar que eu não preciso de você.
                E não parei de te escrever, eu parei de te enviar o que escrevo. Sempre lidei bem com a rejeição, desde que não fosse sua rejeição.
                Encerro a minha resposta por aqui, não quero ser ou parecer mais redundante do que tenho sido todos esses anos.
Gostei de levantar, mesmo ressaqueado, e ter notícias sua.
                De alguém que não te esquece, de um sentimento que não muda, de um homem infielmente seu, J.

Querido J.

Quanto tempo!
Você não devia ter parado de me escrever, às vezes,
Em meio a correria, eu ainda passo aqui pra saber da sua vida.
Fico me perguntando se depois de tanto tempo ainda haveria
Um espaço que me queira, aí dentro de você. Continuo te achando
Sentimental, você tem o jeito pra isso, J ... na verdade, eu até
Gosto disso em você. Com o tempo eu pude perceber que eu
Gosto de muitas coisas em você, coisas que antes eu implicava
Ou não entendia. Não sei se entendo, mas eu queria ao menos
Não entender perto, perto de você. Ensaiei te escrever por tanto
Tempo e desisti todas as vezes, mas é que essa noite tive um sonho
Bonito com a gente ... Éramos felizes juntos, mesmo contudo
Estávamos La no nosso silêncio, mas felizes. Estranho.
Acho que vou sempre pensar em você. Boa insônia!
Com afeto
, L.


Carta encontrada nos comentários.

12 de mai. de 2013

éxéx



                Era noite e ela dizia: “Eu gosto é do estranho.” Pela lua que brilhava alta. Ela disse exatamente com essas palavras. A pele clara, os olhos escuros e com as sobrancelhas mal tingidas, repetiu esta frase algumas vezes.
                Impossível não questionar.
                É fácil gostar do estranho e se envolver com o normal. Eu, por exemplo, sempre gostei de cascavéis e não é por isso que me envolvo com elas. Entendo, claro, a posição da moça de cabelos avermelhados. O estranho dá trabalho.
                Mexe com autoestima, não no sentido bom. Tira o chão e não te dá nada em troca. Pelo menos nada satisfatório.  
                E a noite ia gelada e a cerveja acabava. Não que ela não fosse interessante sem a cerveja, ou bonita. Alguém que tem o estilo de vida que ela leva, sem colocar uma gota de álcool na boca, é no mínimo interessante, sem falar no rosto angelical e as poucas curvas, o timbre da voz, as pernas brancas.
                Consigo ver problemas, se nos envolvêssemos. Sérios problemas. Mas não vamos nos envolver. Porque a noite acaba, ela vai pra casa e eu pra minha, sobra à memória meio turva, falha.
                Caso pudesse dar um conselho ao eu do passado, ou, se por algum motivo ela pudesse ler o que escrevi, diria: Não saia de casa. Mas é claro que isto só serve praquela noite em questão.

6 de mai. de 2013

Blues do 302



                Acho redundância dizer que o blues é triste. Até porque, “blue” na língua inglesa pode significar tristeza. É um estilo sentido. Talvez seja impossível dizer: Não! A técnica. Ela só não é a protagonista.
                Tenho uma queda imensa por ele, assim como tenho por mulheres de olhos distantes. As de olhar vivo, também, chamam atenção, mas o olhar distante é mais forte. Sem utilizar dos recursos brutos, toma toda atenção dos observadores inquietos. Eu sou inquieto.
                Eles nunca se aproximam. Nunca.
                Meus olhos já foram chamados de distante, mas eu não sou mulher e é bem possível que fosse, naquele dia em questão, apenas uma ressaca mais forte. O blues se desenvolve com o sentimento, o sentimento e os olhos distantes me envolvem.
                Eventualmente a música acaba. Os olhos se vão, e, fica a saudade.
                Não que eu goste da palavra saudade. Ela só tem se mostrado frequente. A falta dos vazios e distantes olhos deixa um vácuo frio e inquietante. Pode ser, no final das contas, que eu não seja inquieto. É só uma falta chata. Daquelas que aperta o peito, que tira o sono alguns minutos, ou noites, talvez eu não seja inquieto.
                Quando os olhos se vão, a música para, sobra um blues ao fundo. Porque blues, pra mim, não é música, é só uma representação audível do que se sente.
                É confortante saber que não sou o único, e, que ela não detém os últimos pares de olhos distantes na terra.
                Enquanto olhos distantes não tomam de assalto à atenção e fazem crescer o blues, olhos vivos mostram um possível caminho. Mesmo que não tão atraente, porque dos olhos vivos se tem paz e dos olhos distantes o caos.