4 de abr. de 2013

Carta aos homens de bem.



                Pois bem, não vivi na época em que lutavam para libertar os escravos, mas acredito que não deveria ser ruim para eles. Negros tinham comida, água, trabalho e casa. Não precisavam de mais nada. Mesmo assim os libertaram. Eu não pude reclamar, não vivi naquela época.
                Aí vieram as mulheres.
                Ideias revolucionárias, ideal de liberdade, direito ao voto. Absurdo! Mas eu também não vivi nessa época. Eu vivo na época em que querem tirar meu direito de estupro, não se pode mais, nem sequer, educar a própria esposa com sopapos bem servidos na jugular.
                É como dizem por aí: “Desgraça pouca é bobagem”.
                Agora me enchem o saco, também, por conta dos gays. Querem que eles tenham os mesmos direitos que eu, cidadão de bem, que pago meus impostos e aceito os negros que compram no mesmo mercado que eu. Querem dar aos gays leis que os protejam e garantam aquilo que eu tenho. Mas me recuso a aceitar. Isso é uma afronta.
                Se conseguirem isto, eu pergunto: Que desculpa vou usar?
                O que eu vou dizer pro Carlão, meu sócio, quando ele me pedir pra largar minha família por ele? Como eu digo pra minha esposa que se bato nela é porque ela não se parece com ele? Como eu digo pra minha família, que, finalmente tenho minha chance de ser feliz?
                Não!
                É contra a moral e os bons costumes, eu vou lutar pelo meu direito. Não quero que meu filho gay possa ser feliz. Quero ele casado e com filhos, assim como eu, claro, eu quero netos. Eu vou lutar pelo que é certo, nem que pra isso eu tenha que me apoiar em um livro com mais de dois mil anos e uma doutrina extremamente duvidosa.
                Nós, pessoas de bem, devemos nos unir. Essa é a hora. Olha que ainda nem vou comentar sobre as domésticas e os índios. Até porque eu não sei se quero viver em um país que respeita selvagens. Um lugar onde pobre, negro, doméstica, gays e mulheres tenham os mesmos direitos que eu, homem de bem.
                Pensem sobre isso.
                Desde já grato pela atenção. Carinhosamente, Marquinhos Felicitando.