A
gente formava uma puta dupla. Nós éramos sensacionais, não existe outro termo. Caminhávamos
lado a lado e o mundo parava. Era pura química. Engraçado pensar que você é o
pesadelo de qualquer escritor.
Não
escrevi nada enquanto estávamos juntos. Nem um simples predicado.
Poucas
vezes estive tão em paz como estava com você. Esse foi o problema, tudo tranquilo
demais. Mal enchia a cara, você me mantinha no de sempre. O bom, e velho, arroz
com feijão e bife. É gostoso, mas isso mata algumas pessoas. Eu sou uma delas.
Morri aos poucos com você. A situação chegou ao ponto de me fazer acreditar que
o mundo é bom, que já havia feito minha parte.
Você
foi o mais próximo de família que eu tive.
Lembro
de quando passamos dias trancados no quarto, só os dois, sem música de fora,
apenas seus gemidos e algumas risadas. Eram bons dias. Bons demais. Pacato. Suas fotos continuam comigo. Você
sempre sorrindo e eu com a cara séria. Dormi bem ao seu lado. É como se eu
tivesse tirado férias do mundo, durou o tempo que estivemos juntos. Um pouco
mais que uma canção.
Você
me deixou, assim como outras, num sábado frio, com pessoas vazias e garrafas
cheias. Você foi e eu fiquei. Terminou de me matar ali, era algo novo e eu não
me arrependo de ter vivido. Achei que seria fácil superar, mas acredito que estou
mais apegado que o normal. Hoje você parece feliz, mal nos falamos e você me
trata como um desconhecido. Bom, talvez eu seja. Mas nós formávamos uma puta
dupla.
Antes
eu sabia terminar e tinha grande dificuldade em começar. Hoje