Olha
só, vou começar essa carta assim. Exatamente desse jeito.
Com
todos esses espaços e parágrafos, porque é cedo demais para te ligar e o dia
mal começou para que eu possa pensar em me matar, por mais que eu pense – às vezes.
Sei
que tem muito tempo que não te escrevo algo substancial, mas sabe como são
essas coisas e como eu sou desligado do mundo e de pessoas que estão – e são –
distantes.
Não
tenho muito que dizer. O pé de amora morreu, perdi meu emprego, e, talvez
publique meu primeiro livro. Você sempre leu tudo que escrevi e apesar de nunca
dizer nada além de: “Nossa que sentimental” e achar que não levo jeito, algumas
pessoas pareceram gostar.
Recebi
um bom adiantamento e as coisas estão relativamente encaminhadas. Não, eu não
parei de fumar, ou beber, fuder e querer você de novo. Velhos hábitos são difíceis
de perder. Acordei cedo porque tive um sonho estranho.
Você
não vai receber essa carta na hora em que escrevi.
Bom...
Sonhei que éramos adolescentes de novo e que namorávamos, eu era só mais um
garoto tentando se encontrar e com uma única certeza, você. Pegávamos algum
curso extra, inglês ou francês, não lembro ao certo e eu te deixava em casa
todos os dias. Você era ainda mais linda que hoje. Nosso maior problema era
contar ao seu pai porque sua mãe parecia bem com isso e até nos ajudava algumas
vezes. Engraçado, eu sei.
Passávamos
horas sentados em algum lugar entre a minha casa e a sua, sem uma sombra
sequer, só as nuvens, o céu azul, o sol fresco marcando o final do inverno, a grama
verde e beijos, muitos beijos e carinhos.
Era
inocente, puro. Não que a tensão sexual não existisse, ela só não era
prioridade.
Eu
só queria você de qualquer jeito. Não sei se é um pouco tarde pra isso, mas eu
ainda quero.
Você
era uma garota meio confusa, bem extrema com relação a bebidas, cigarros e
música. Não muito diferente de hoje na verdade. No sonho eu também não sabia como conversar
com você sem parecer alguém com sérios problemas mentais, assim como hoje. Não
sabia o que falar e passava boa parte do nosso tempo juntos calado ou te provocando,
você também tinha problemas em entender meu sarcasmo e parecia não gostar muito
de mim.
Mas
eu estava feliz.
O
sonho durou por meses, não que tenha durado mesmo, mas pareceu.
Ainda
te conheço muito bem, sei o que te irrita e por mais você não seja a
adolescente estranha e um pouco fora do padrão que eu convivi em meu sonho
ainda quero você de qualquer jeito. Não sei se é um pouco tarde pra isso, mas
eu quero.
Acho
que vou ser sempre louco por você. De um infiel apaixonado qualquer do seu
passado, J.