30 de jun. de 2013

Ainda bem



                Podia ter sido comigo. Era o que pensava enquanto os via de mãos dadas. Podia ter sido eu a trocar elogios, a ficar no marasmo e passar domingos procrastinando em frente a TV. Porém não era. Pensando bem e olhando através de outro ponto de vista, um otimista, foi melhor assim. Imagina se ela em um acesso de loucura, como outras já tiveram e até mesmo ela ameaçava ter, quebrasse não só minha vitrola e a coleção de Pink Floyd como, também, minha coleção de Dylan e o vinil do Led que eu ganhei do meu avô.
                Pensem comigo... Poderia ter sido eu a ter que trabalhar como um condenado pra comprar uma jaqueta de couro nova, já que ela teria feito retalhos da outra. Seria possível que eu fosse asfixiado com o travesseiro durante o sono em alguma crise de TPM.
                Hoje eu sirvo meu café pensando: Podia ter sido comigo, graças a deus que não foi.

26 de jun. de 2013

Não tá claro.



                É legal ter duvidas. Faz parte da natureza humana. A certeza nunca fez nenhum herói. A problemática está exatamente na pergunta: o que você faz com a sua duvida?
                Eu conheço pessoas que fogem. Fugir pode ser, e é considerado por muitos, um ato de covardia. As questões não somem quando você foge. Elas ficam entorpecidas, podem até desaparecer por alguns instantes, mas voltarão. Problemas só acabam quando são resolvidos.
                É meio óbvio, eu sei.
                Mas é que tem gente que não conseguiria ver o caminho mesmo que a mãe pegasse pelas mãos e levasse até a metade da estrada. Pessoas estranhas. A fuga pode ser realizada de diversas maneiras e não tenho competência pra dizer todas elas.
                Todos já fugimos algum dia, o que nos separa dos demais, em algum momento, é que cansamos de ter o mesmo problema de maneiras diferentes, nesses casos ficamos e enfrentamos. Seja por livre espontânea vontade ou por falta de opção melhor.  

19 de jun. de 2013

Baldio



                Antigamente, onde tem esse lote aí, costumava ter uma casa. Pena olhar pra esse monte de entulho hoje e lembrar de como era. Teve uma vez, eu servia o exercito, me chamaram pra sacrificar um cachorro.
                Veterinário era difícil de achar, não que eu entendesse, mas é que eu não tinha medo de bicho bravo. Naquela casa morava um caçador de codorna. Levei o cão lá. Ele carregou a cartucheira, engatilhou a arma e atirou.
                Ele era bem supersticioso, então, quando a arma não descarregou e o bicho continuou vivo, o homem se sentiu mal em prosseguir. Chegou até a me perguntar se deveria tentar atirar de novo. Eu fiz com a cabeça que sim e ele apertou o gatilho. Eu tava habituado com barulho de tiro por causa do treinamento do exército, mas parece que naquele dia foi tão alto.
                Não consegui fazer mais nada.
                Passei o dia sentado, meio vidrado. Não tava rendendo. Lembro que o Sargento, a tardezinha, me chamou pra conversa. Queria saber por que eu tava daquele jeito, disse pra ele que não tava diferente não, era coisa da cabeça dele. A verdade é que eu tava apaixonado. Aquele cachorro me acompanhava sempre que eu saía pra jogar bola. Ele vivia por aqui, nas redondezas. Era meu amigo. Senti que tivesse matado uma pessoa.
                Eu viro aqui. Mudei de casa, agora moro nessa rua. Abraço e um bom dia pra você...

16 de jun. de 2013

A beleza de deitar



                Quando alguém quer outro, o que existe é algo simples. Quando Pedro Emanuel quer Paloma Eduarda, o que sobra entre os dois é amor. A não ser que um terceiro, o amor, profane. Se Paloma escolhe Pedro, ela quer ter sua alma, seu corpo, sua vida. Mas se além dos dois existirem mais? E se Emanuel privar Eduarda do que ele mais venera, o amor sobrevive? Se não privar, a querência durará?
                Diziam que o amor só dura em liberdade.
                Sofrerão. Libertar é preciso. Ele não a quer presa como santa no altar. Ela não quer o amor entre os dois. Nesses casos o junto não é assim uma boa pedida. Quando a complexidade fala mais alto que a vontade, quando o sentimento é maior que liberdade, o melhor, é, seguir seu caminho. Até porque se um dos dois perguntar ao outro: Onde você quer chegar? A resposta pode por um fim em tudo bom que um dia surgiu.

13 de jun. de 2013

Doses homeopáticas



                Há no momento em que o pênis adentra lentamente em uma, úmida e quente, vagina mal depilada um alívio momentâneo para as dores do mundo. Como se jogassem água fria na carne ainda em chamas. Na hora que a glande é envolta por todo calor lascivo, é como se os pandas não mais estivessem extintos e a busca humana se torna obsoleta. O instinto sobressai, e é bom. Exatamente naquela hora em que se escorrega lentamente pela primeira vez. Não há uísque que pague ou trago de ervas finas, é só você, ela e o movimento, quase, involuntário dos dois corpos em busca do prazer.
                A cura do mundo.