30 de mai. de 2012

Tu ias

Vem comigo? Vem pro que der e vier, seja com sol ou chuva.
Vem comigo pra Rússia ou Itália.
Vem conhecer novos dias brancos, se brancos eles forem.
Eu te prometo o sol se o sol sair ou até mesmo a chuva.
 Se a chuva cair e você vier, mesmo que seja para transformar em branco o cinza inglês.
Se você quiser comigo, seja pro que der ou só o que vier.
Eu te prometo todo esse grande ou qualquer outro tanto do meu amor.
Mas vem, pro que der e vier comigo.

29 de mai. de 2012

Calorosamente seco

              Quem me conhece sabe bem que não sou do tipo patriota, nem regionalista. Não tenho orgulho em dizer que nasci em Catalão e muito menos que sou brasileiro.
                Tenho um pouco dessa coisa de “Santo do lugar não faz milagre”.
                Mudei para o interior de Minas a uns dois ou três anos atrás, até então não tinha pensado que o clima e, relembrando as aulas de Leider e Fred, a biodiversidade pudessem afetar tanto o jeito de um povo.
                Goiás é um estado seco, um imenso cerrado quase todo plano, e seco. Com terra meio branca, e seca, em alguns lugares e meio vermelha seca em outros, com árvores retorcidas de diferentes tamanhos, cascas grossas e secas.
                Enfim, uma grande porção de muita coisa seca. Mas no meio disso tudo, em certas épocas do ano, é possível se ver algo como ipês, tão floridos como na música.
                O ponto que quero chegar é: por mais que tente fugir, negar, mudar, isso está nos goianos, está em mim. Essa secura como nos meses de Julho e Agosto que chega a quase ferir pessoas desavisadas, junto com essa beleza meio estranha, quase feia, em tons amarelados ou meio roxiados. Essa distância próxima, onde mesmo passando anos ao lado de goianos não seria possível descobrir tudo. É como se guardássemos um segredo, mesmo que não tenhamos segredo algum. 




Dedicado ao arroz com pequi que fiz no almoço hoje.

23 de mai. de 2012

Aos poeteiros

- Hoje ele faz aniversário...
- E daí?
- Vai ter rock, vamos?
- Me recuso a comemorar o aniversário de quem eu acho que não deveria ter nascido.

Querida L.

Queria te escrever algo novo, mas preferi ser sincero como sempre.
"Vê se te alimenta e não pensa que eu fui por não te amar. Cuida do teu pra que ninguém te jogue no chão e procure dividir-se em alguém."
Por hoje é isso. De um homem infielmente seu, J.

22 de mai. de 2012

Perfeitamente estranho

                Não era muito tarde, o relógio da igreja Dom Bosco quase marcava uma hora, o sino já havia tocado e o sol brilhava por entre nuvens com tons de cinza, céu azul e o vento gelado do final do outono.
                O mundo é assim, não sei se é assim acredito que seja assim, cheio de trocas de olhares e risos desastrados de momentos verdadeiros, daqueles sem máscaras onde é possível deixar sua timidez falar mais alto sem ter que corresponder a expectativas.
                Como quando sem aviso você, ou eu, acaba por dobrar a esquina olhando para o celular e bate de frente com uma linda mulher que andava despreocupada, ou não, com a vida e após o susto e um gritinho leve se pega rindo da situação, você espantado e com o rosto corado, sem saber o que fazer encarando aqueles lindos olhos esboça um simples: “Desculpa” aí os dois saem andando em sentidos opostos e se olham duas vezes, você com rosto voltando ao normal e ela com um belo sorriso nos lábios e os olhos castanhos olhando os seus olhos castanhos.
            

18 de mai. de 2012

Ensaio primeiro

(Foco de luz se acende lentamente e uma pessoa em cena segurando um copo de uísque vazio ao lado de um balde de metal com gelo) – Bom! (Coloca dois cubos de gelo no copo e faz movimentos circulares como se misturasse a bebida) Acho que é isso, quando uma linda mulher quer te beijar você não pode simplesmente dizer não. (Dá um gole no liquido imaginário) Você tem que ser cavalheiro o suficiente para beijá-la de volta, é isso que homens fazem. (A luz vai se apagando aos poucos)

14 de mai. de 2012

Poeteiros

                Tendo em vista todos os poetas que conheci pessoalmente concordo infelizmente poeta bom é poeta morto.



A pontuação fica por conta de vocês.

Vai manter a tradição

                Ela levantou e pós os pés descalços no chão, quase como fazia todos os dias, foi ao banheiro e voltou para cama, se jogou de bruços e olhou para parede esquerda do quarto. Pegou o celular, leu a ultima mensagem recebida e ligou para o trabalho.
                Com um pico de energia colocou aquele velho disco do Noel pra tocar, tomou uma xícara de chá e voltou à posição original.
                O celular vibrou de novo.
                Leu e com a mesma apatia corporal deixou cair o ultimo suspiro da bateria. Focou na marca do pé dele naquele canto da parede ao lado do descascado, naquela marca do calcanhar suado de um desses sábados depois do jogo quando ele chegava mais sedento do que nunca e ela estava quase sempre a fazer as unhas.
                O coração batendo descompassado fazia pensar em todas as mentiras que ouviu. O ultimo ensaio foi marcado, ela descobriu por acidente naquela esquina. Saiu cantando sem querer sua vida na avenida.
                Agora desfilava seu bloco – quase – tradicional naquela quarta feira nublada enquanto o mundo dizia: “A Eunice do Socorro não veio hoje, ligou cedo avisando que tava doente”.
               

11 de mai. de 2012

Darling

                Aos poucos as reclamações deram lugar a algo novo. Ela olhava agora de um jeito diferente, sem perdê-lo de vista, se aninhava ronronando em seus braços enquanto alguma Sitcom dessas enlatadas que assistimos sorrindo passava.
                Brincou com o dedo dele e se entregou ao cansaço de uma mudança abrupta repentina.
                Depois de algumas tardes juntos, lá estava ela apaixonada por ele e ele, dessa vez, apaixonado por toda inocência felina dela. 




 Dedicado a Palomita e seus miados.

8 de mai. de 2012

Inv(f)erno

                A vida deveria ter mais desses começos promissores. Como quando ela diz que vem e aí eu vou buscá-la na rodoviária ou ela chega um pouco mais cedo e toca o interfone meio sem graça. Sobe a escada um pouco tímida e deixa a mala ao lado da minha cama.
               Começos, como quando ela tira o sapato, solta o cabelo – que fica lindo preso daquele jeito dela – e vem para o balcão beber um copo de água ou me acompanhar na cerveja gelada enquanto faço algo pra comer.
                Desses começos que a gente não sabe o que esperar. Ela quer ir ao centro e eu quero ir à vagina e mesmo assim, com toda essa diversidade de vontades, há um entendimento e o começo vai se tornando meio.
                Não que o meio não tenha seu charme e o fim não tenha sua bela melancolia.
                É só que hoje eu senti falta do começo.