14 de mai. de 2012

Vai manter a tradição

                Ela levantou e pós os pés descalços no chão, quase como fazia todos os dias, foi ao banheiro e voltou para cama, se jogou de bruços e olhou para parede esquerda do quarto. Pegou o celular, leu a ultima mensagem recebida e ligou para o trabalho.
                Com um pico de energia colocou aquele velho disco do Noel pra tocar, tomou uma xícara de chá e voltou à posição original.
                O celular vibrou de novo.
                Leu e com a mesma apatia corporal deixou cair o ultimo suspiro da bateria. Focou na marca do pé dele naquele canto da parede ao lado do descascado, naquela marca do calcanhar suado de um desses sábados depois do jogo quando ele chegava mais sedento do que nunca e ela estava quase sempre a fazer as unhas.
                O coração batendo descompassado fazia pensar em todas as mentiras que ouviu. O ultimo ensaio foi marcado, ela descobriu por acidente naquela esquina. Saiu cantando sem querer sua vida na avenida.
                Agora desfilava seu bloco – quase – tradicional naquela quarta feira nublada enquanto o mundo dizia: “A Eunice do Socorro não veio hoje, ligou cedo avisando que tava doente”.
               

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