30 de out. de 2011

Under cover of darkness

A! Se eu não fosse tão babaca...

Te chamava de amor, te pedia em namoro e fazia um filho ou dois com você no futuro.

Te ligava de madrugada pra dizer: “Dorme bem” quando não pudéssemos dormir juntos.

Se eu não fosse tão babaca assumia minha paixão e te enchia de emoção.

Tatuava nos meus ossos o seu nome e te dava meu sobrenome.

Se eu não fosse tão babaca e não ferrasse com tudo sempre, seriamos o casal mais promissor de todos os tempos.

Enfrentaríamos crises, problemas e doenças.

Se eu não fosse tão seu, mesmo sendo tão babaca, o mundo teria senso.

Eu sofreria as leis do carma e as crianças da África não passariam fome, mas eu sou babaca. Egocêntrico e com mais defeitos que qualquer um daqueles personagens das series que você assiste. O mundo não faz sentido e seu abraço de despedida ainda me deixa mais dolorido que qualquer murro que já tenha levado.

25 de out. de 2011

Subtract one love

“Oi, como é que você está? Passou bem o dia? E a faculdade, tá melhor agora?”

Eu passei horas, ensaiando isso. Com a guitarra em meus braços e encarando o telefone fiquei querendo ouvir aquele toque, o que coloquei pra você, se por acaso algum dia me ligasse. É claro que você não sabe disso, não sabe da vontade que tenho de deitar ao seu lado com a sua cabeça em meu peito e te ouvir falar por horas, entre beijos e cafunés, goles de cerveja e tragos de cigarro. Mesmo que sejam reclamações, da fumaça que cheira mal, daquela garota da sua sala que é uma vaca, das cólicas e como elas são cruéis com você.

Acho que você nunca vai saber, sou ruim com telefones - Acho que já te disse isso. A verdade é que estou ficando velho, velho demais pra essas coisas de festas e baladas então raramente nos encontraremos. Acredito que esta seja mais uma das coisas que escrevi pra você e que nunca vai ler, mas eu me lembro do seu cheiro, era bom, me fazia querer ficar, deixar Goiás de lado, te fazer dormir algum tempo e ficar ali, com o que me restava de uísque, os dois cigarros no maço e meu blues.

Não sei se mudou algo pra você, mas fez alguma diferença te ver fechar a porta e entrar.

De verdade, você tem belos olhos, não a cor, eu digo o formato, combina com você. Não que a cor não combinasse, é que não gosto de olho claro, mas em você ficou bem não me leve a mal.

Acho que já começo a sentir os efeitos do álcool, estava limpo a duas semanas. A culpa não é sua, é culpa do que sinto por você. Paixões são mais complexas no inicio só espero que meu pulmão e fígado sobrevivam a mais uma temporada de sentimentos não correspondidos.

24 de out. de 2011

Lembranças

Eu nasci em uma família cristã conservadora, nunca me senti pressionada a seguir o mesmo caminho que meus pais. Sigo porque gosto. Me sinto bem na igreja, poucas vezes tive tanto prazer quanto em cuidar do lugar onde orações são feitas.

Nunca me deitei com um homem, também nunca beijei um. Não é que eu ache errado beijar, só não me sinto preparada. A bíblia e a igreja sempre ditaram meu comportamento, não tenho do que reclamar a vida tem sido boa pra mim.

Eu sonho em me casar um dia, com um homem simples e bom. Ele tem que ser trabalhador e gostar de ficar em casa. Sempre gostei de mãos calejadas, acho que isso mostra caráter sabe? É como se a pessoa tivesse trabalhando pra ter um futuro bom, e, quem trabalha mal sujeito não é. Não me importo com o cheiro de suor e as roupas sujas, quando casar o amor que Deus colocar no meu coração vai me fazer ficar alegre em cuidar dele.

Eu não gosto muito de ir à igreja a noite, não por causa da igreja deus me livre. É que fico com medo, as ruas lá perto são estreitas e não são bem iluminadas. Aqueles bares vivem cheios de homens. Eles fedem, tem aparência suja e os dentes feios. Eu sei que Jesus disse pra gente não julgar, mas eu sempre passo rápido sem olhar pro lado. Se um deles um dia me seguir eu fico desesperada.

Um dia perdi a noção do tempo. A semana já tava estranha mesmo, como se não bastasse sai tarde da igreja, resolvi fugir da rua dos bares e passei pela viela do lado, meu coração gelou quando vi longe aquele vulto, mudei de direção e entrei no beco, quando criança minha mãe dizia para evitar becos e vielas, “a cidade tá ficando perigosa” “Não dá mais pra confiar”. Devia ter lembrado disso, a pouca iluminação não me deixou ver, quando percebi ele já tinha me pressionado contra a parede.

Aqueles dentes amarelos, a barba grande, o cheiro forte, aqueles olhos que brilhavam, eu tentava, queria fugir as pernas não obedeciam, tremiam. Um calor estranho tomava conta do peito e meus olhos embaçados de lagrimas e a boca que teimava em querer morder enquanto aquele animal sem coração estocava seu membro sujo, duro e grande sem piedade em mim. Nunca fui tão humilhada, ele rasgou meu vestido quando me pressionou na parede e dizia coisas como: “A vadiazinha tá gostando” “Grita a mamãe agora putinha”. Me colocou de frente pro muro com o rosto pressionado na parede rebocada e enfiava sem dó. Eu queria gritar, sumir. Quanto mais me mexia mais ele me apertava, aquelas mãos sujas, peludas e grossas apertando forte meu peito. As mordidas que ele me dava o jeito que segurava meu pescoço como se quisesse me matar sem ar. Eu lutava pra manter meus olhos abertos e a boca fechada. Uma parte de mim parecia querer gemer e arranhar aquele inútil.

Depois de um tempo ele gozou, pareciam litros, eu conseguia sentir dentro de mim. Estava imunda, impura, não resisti. Eu deveria ter resistido, eu queria ter resistido.


Texto para as atrizes que quiserem tentar o papel no curta.

22 de out. de 2011

On my side

-Um homem apaixonado é realmente ridículo.

-Não acho que seja paixão...

-A! Você diz isso por quê?

-Acho que deve ser síndrome do brinquedo.

-Hum...

-Sabe toda criança tem aquele brinquedo que não merece atenção? Aí um belo dia alguém pega e começa a brincar aí a criança quer ele de volta?

-Não faz sentido.

-Claro que faz.

-Você ainda não brincou com ela.

21 de out. de 2011

Brown eyed girl

O problema é esse, sempre foi. Aqueles olhos não me saíram da cabeça. Ela tinha uma cara de má e uma atitude engraçada e eu estava bêbado, pode não ter sido nada disso. Eu confundi seu nome e a levei em casa.

Ela sentia frio.

Todos sentimos frio nessa cidade, esse é o charme do local. Lindos olhos, um sobrenome engraçado, e, eu mencionei o quanto ela ficou linda com a minha camisa xadrez?

A noite passou como tinha mesmo que passar. Vieram dias, semanas, algumas palavras trocadas até o reencontro. Aqueles olhos continuavam magnéticos, combinavam perfeitamente com a boca e o sorriso, mesmo rindo ela não perdia o jeito “bad-ass”.

Não teve folga.

Não sei se ele era mais interessante que qualquer um ali, parecia querer um troféu. Ela era o troféu. Não que eu tivesse vergonha de exibi-la, mas não seria a prioridade. A perdi de vista, nós conversamos quando nos esbarramos e só.

Eu queria saber mais sobre ela, comida favorita, filmes, seriados, desenhos. Eu a queria. Acho que sempre quis, desde aquele momento no corredor em frente ao bebedor.

No final da noite me restou à vontade e o aperto do arrependimento no peito. Foi o beijo mais doce que tive em meses.