24 de out. de 2011

Lembranças

Eu nasci em uma família cristã conservadora, nunca me senti pressionada a seguir o mesmo caminho que meus pais. Sigo porque gosto. Me sinto bem na igreja, poucas vezes tive tanto prazer quanto em cuidar do lugar onde orações são feitas.

Nunca me deitei com um homem, também nunca beijei um. Não é que eu ache errado beijar, só não me sinto preparada. A bíblia e a igreja sempre ditaram meu comportamento, não tenho do que reclamar a vida tem sido boa pra mim.

Eu sonho em me casar um dia, com um homem simples e bom. Ele tem que ser trabalhador e gostar de ficar em casa. Sempre gostei de mãos calejadas, acho que isso mostra caráter sabe? É como se a pessoa tivesse trabalhando pra ter um futuro bom, e, quem trabalha mal sujeito não é. Não me importo com o cheiro de suor e as roupas sujas, quando casar o amor que Deus colocar no meu coração vai me fazer ficar alegre em cuidar dele.

Eu não gosto muito de ir à igreja a noite, não por causa da igreja deus me livre. É que fico com medo, as ruas lá perto são estreitas e não são bem iluminadas. Aqueles bares vivem cheios de homens. Eles fedem, tem aparência suja e os dentes feios. Eu sei que Jesus disse pra gente não julgar, mas eu sempre passo rápido sem olhar pro lado. Se um deles um dia me seguir eu fico desesperada.

Um dia perdi a noção do tempo. A semana já tava estranha mesmo, como se não bastasse sai tarde da igreja, resolvi fugir da rua dos bares e passei pela viela do lado, meu coração gelou quando vi longe aquele vulto, mudei de direção e entrei no beco, quando criança minha mãe dizia para evitar becos e vielas, “a cidade tá ficando perigosa” “Não dá mais pra confiar”. Devia ter lembrado disso, a pouca iluminação não me deixou ver, quando percebi ele já tinha me pressionado contra a parede.

Aqueles dentes amarelos, a barba grande, o cheiro forte, aqueles olhos que brilhavam, eu tentava, queria fugir as pernas não obedeciam, tremiam. Um calor estranho tomava conta do peito e meus olhos embaçados de lagrimas e a boca que teimava em querer morder enquanto aquele animal sem coração estocava seu membro sujo, duro e grande sem piedade em mim. Nunca fui tão humilhada, ele rasgou meu vestido quando me pressionou na parede e dizia coisas como: “A vadiazinha tá gostando” “Grita a mamãe agora putinha”. Me colocou de frente pro muro com o rosto pressionado na parede rebocada e enfiava sem dó. Eu queria gritar, sumir. Quanto mais me mexia mais ele me apertava, aquelas mãos sujas, peludas e grossas apertando forte meu peito. As mordidas que ele me dava o jeito que segurava meu pescoço como se quisesse me matar sem ar. Eu lutava pra manter meus olhos abertos e a boca fechada. Uma parte de mim parecia querer gemer e arranhar aquele inútil.

Depois de um tempo ele gozou, pareciam litros, eu conseguia sentir dentro de mim. Estava imunda, impura, não resisti. Eu deveria ter resistido, eu queria ter resistido.


Texto para as atrizes que quiserem tentar o papel no curta.

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