23 de ago. de 2013

Segunda e primeira pessoa do singular



                A gente formava uma puta dupla. Nós éramos sensacionais, não existe outro termo. Caminhávamos lado a lado e o mundo parava. Era pura química. Engraçado pensar que você é o pesadelo de qualquer escritor.
                Não escrevi nada enquanto estávamos juntos. Nem um simples predicado.
                Poucas vezes estive tão em paz como estava com você. Esse foi o problema, tudo tranquilo demais. Mal enchia a cara, você me mantinha no de sempre. O bom, e velho, arroz com feijão e bife. É gostoso, mas isso mata algumas pessoas. Eu sou uma delas. Morri aos poucos com você. A situação chegou ao ponto de me fazer acreditar que o mundo é bom, que já havia feito minha parte.
                Você foi o mais próximo de família que eu tive.
                Lembro de quando passamos dias trancados no quarto, só os dois, sem música de fora, apenas seus gemidos e algumas risadas. Eram bons dias. Bons demais.  Pacato. Suas fotos continuam comigo. Você sempre sorrindo e eu com a cara séria. Dormi bem ao seu lado. É como se eu tivesse tirado férias do mundo, durou o tempo que estivemos juntos. Um pouco mais que uma canção.
                Você me deixou, assim como outras, num sábado frio, com pessoas vazias e garrafas cheias. Você foi e eu fiquei. Terminou de me matar ali, era algo novo e eu não me arrependo de ter vivido. Achei que seria fácil superar, mas acredito que estou mais apegado que o normal. Hoje você parece feliz, mal nos falamos e você me trata como um desconhecido. Bom, talvez eu seja. Mas nós formávamos uma puta dupla.
                Antes eu sabia terminar e tinha grande dificuldade em começar. Hoje

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