Fatos
são, antes de tudo, verdades. Verdades refutáveis e que podem – devem – ser questionadas.
De fato, o período em que me alimentei melhor, até hoje, foi quando trabalhei.
Todas
as noites, por volta de nove, recebia meu prato fundo, pesado, colorido. Um
bife suculento de alguma carne cara, arroz, salada, feijão. Coisa de qualidade,
sempre muito bem preparada. Uma grana gorda pra servir porcos endinheirados que
vinham até essa cidade turística pagar quatro vezes mais em coisas
insignificantes.
Status.
Tinha
regalias, direito a gorjeta, cervejas e transporte. Era mais bem tratado lá do
que pelas mulheres que me amavam. E mesmo assim, me sentia um lixo. O dinheiro
fez de mim um bunda mole, um asno corporativo. Aos poucos eu me via dando
atenção a circunstâncias medíocres, me tornava um homúnculo mediano.
O
dinheiro me deixou amolecido.
Minha
vida era mais empolgante quando não sabia sobre o amanhã. Ser precavido é uma
merda, daquelas que fedem, do tipo que sai de você após uma noite de bebedeira
e cigarros. Vai ser sempre assim. Ficar nesse estado catatônico aos domingos de
folga, rezando por uma bala perdida ou um gole de arsênio. Crendo que a vida
não pode melhorar mais, e que o mundo só será justo quando meu salário subir.
Depois
de um banho e um gole de uísque, eu vou me olhar no espelho e dizer: “Parabéns...
Você acaba de se tornar uma linda prostituta materialista”.
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