1 de set. de 2013

Mundo S.A.



                Fatos são, antes de tudo, verdades. Verdades refutáveis e que podem – devem – ser questionadas. De fato, o período em que me alimentei melhor, até hoje, foi quando trabalhei.
                Todas as noites, por volta de nove, recebia meu prato fundo, pesado, colorido. Um bife suculento de alguma carne cara, arroz, salada, feijão. Coisa de qualidade, sempre muito bem preparada. Uma grana gorda pra servir porcos endinheirados que vinham até essa cidade turística pagar quatro vezes mais em coisas insignificantes.
                Status.
                Tinha regalias, direito a gorjeta, cervejas e transporte. Era mais bem tratado lá do que pelas mulheres que me amavam. E mesmo assim, me sentia um lixo. O dinheiro fez de mim um bunda mole, um asno corporativo. Aos poucos eu me via dando atenção a circunstâncias medíocres, me tornava um homúnculo mediano.
                O dinheiro me deixou amolecido.
                Minha vida era mais empolgante quando não sabia sobre o amanhã. Ser precavido é uma merda, daquelas que fedem, do tipo que sai de você após uma noite de bebedeira e cigarros. Vai ser sempre assim. Ficar nesse estado catatônico aos domingos de folga, rezando por uma bala perdida ou um gole de arsênio. Crendo que a vida não pode melhorar mais, e que o mundo só será justo quando meu salário subir.
                Depois de um banho e um gole de uísque, eu vou me olhar no espelho e dizer: “Parabéns... Você acaba de se tornar uma linda prostituta materialista”.

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