12 de out. de 2012

Água'rdente



                Ele chegou, sentou em um banco no balcão. Afrouxou a gravata e pediu uma cerveja. Duas goladas no copo, já suado, e sentiu que precisaria de algo mais forte, algo mais ácido, algo mais parecido com uma mulher.
                “Me vê duas doses de cachaça também!”
                O mundo sabe que o uísque é o cão engarrafado, é o melhor amigo. A cachaça é diferente, ela te faz perder a cabeça, te deixa de quatro. Apaixonado. Babando e querendo mais. A cachaça é uma mulher, não qualquer mulher. É aquela que te pega de jeito, suga sua alma, seu sêmem e a sua dignidade.
                Que quando vai embora deixa um rombo na sua carteira quase tão grande quanto o da sua moral.
                E você fica ali com dor de cabeça, estomago reclamando, a visão embaçada e as pernas bambas. Ferrado. O que não é lá muito diferente de estar apaixonado.
                Pediu outra cerveja.
                Olhou pro lado. Ela sorriu com os olhos, ele pediu mais uma dose. Ela acariciava o copo com a boca esperando uma oportunidade e ele queria amnésia liquida.
                A noite vermelha de vento fresco abafado passou rápida e pra ele, só restou o outro dia, um atraso no escritório, uma calcinha embaixo do travesseiro e um bilhetinho que trazia logo após o número, um singelo:            “Me liga!”

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