14 de mar. de 2012

Terceiro dia



                Noite passada não fui para casa, eram coisas demais a resolver, tirei um cochilo de no máximo quinze minutos no sofá do departamento. Sonhei com ela.
                Na verdade eu sonhei com o dia em que nos conhecemos.
                Ela deve ter deixado todos eles doentes, não existe outra explicação para o fato de liberarem-na assim tão cedo. Me recuso acreditar que ela tenha progredido no tratamento.
                Acho que finalmente estou pegando o jeito disso, é como se eu fosse uma virgenzinha no auge da puberdade sofrendo pela falta de amigos.
                Tentei em vão ligar os pontos durante a noite “faltam peças demais nesse maldito quebra cabeças, se ao menos aquele moleque ainda estivesse vivo”. O dia nasceu, não demorou muito minha secretaria chegou. Não fazia ideia de que ela chegava tão cedo ao trabalho, o expediente só começava as 10 e ela já estava lá arrumando suas coisas. No radio tocava boleros antigos mesclado com noticias do Vaticano.
                Parece que finalmente vão reconhecer aquele hippie como messias. Eu digo uma coisa, para se levantar e encarar de peito aberto o que aquele filho da puta encarou é preciso culhões.
                Ela está radiante, ainda choramingava enquanto organizava a papelada em suas gavetas. Não tinha me visto enrolado na toalha ali em frente ao quadro com meus rabiscos.
                Sempre preferi o chuveiro do departamento.
                É mais quente e sai mais água que o do meu apartamento. A pobrezinha levou um susto quando me viu. Perguntei o que tinha acontecido e ela não se segurou, me abraçou em prantos. Eu sentia satisfeito aqueles seios médios em meu peito, ela me contou sobre seu namorado e as atrocidades que ele vinha fazendo de uns tempos para cá. Abriu seu coração. Dizia que estava carente e que gostava das minhas cicatrizes.
                Eu mal podia acreditar.
                Ela me beijou, aqueles lábios macios com gosto de creme dental de menta, aqueles seios firmes e o rabo mais lindo que eu já vi, seriam finalmente meu. Os outros funcionários só chegariam daqui algumas horas, aproveitei para fazer com ela o que sempre quis desde quando vim transferido de Goiânia. Abocanhei aquela linda buceta e só parei quando ela implorava. Fodemos por horas.
                Sem duvida a melhor foda que tive desde que ela foi internada.
                O dia mal tinha começado.
                Ela saiu feliz para buscar minhas roupas na lavanderia, voltou rápido e pedindo mais. Se eu soubesse que ela teria tanto tesão assim nas minhas cicatrizes e tatuagens, iria trabalhar sem camisa todos os dias.
                Vesti meu terno preto, camisa branca e minhas botas pretas.
                Agora sim era gente.
                Ela me disse que a diarista tinha ido ao apartamento e que iria mandar agora cedo ainda um faz tudo resolver os problemas com a fiação e o encanamento. Eu só conseguia pensar “meu pau deve ser de ouro”.
                Fui para reunião com o dono do estábulo.
                Cheguei naquela fazenda, quatro mil alqueires de terra em um dos bairros mais caros da cidade. Eu tenho que acabar logo com esse esquema, quero esse bolo todo pra mim chega de dividir com esses vermes.
                Ele me esperava em um estábulo em construção, dois guarda costas. Acho que eram russos ou alemães a julgar pelo tamanho e a cor da pele.
                - Korsakoff... Pontual como sempre.
                - É...
                - Soube que você anda se informando sobre assuntos que não lhe dizem respeito.
                E a conversa prosseguiu por horas. Aqueles dois caras pareciam cães prontos a atacar, mas não me intimidaram, eles não seriam tão retardados a ponto de matar alguém como eu assim. Esses filhos da mãe eram inteligentes.
                Sai de lá faminto, alegria me causava isso.
                Passei na padaria do francês. “Pierre, me vê o de sempre e café preto.
- Korsakoff, meu nome é Genet, JEAN GENET e não Pierre... Porra!
- Pra mim vocês franceses são todos iguais, como aqueles malditos asiáticos. Uma grande copia, um lote inteiro de Pierres e Miagis.
- Sempre carismático, não é mesmo filho da puta?
- Faz parte do meu charme...
- As coisas estão pesadas. Fiquei sabendo que os ucranianos já tomaram metade da cidade.
- Porra!
- O quê? Você sabe de algo não é?
- Viado, preciso ir... Cancela o pedido e me dá só o café.”
A porra ficou seria.
Passei a mão no bolso do paletó e peguei meu cantil, completei com uísque. Meu humor acabava de ir para o mesmo lugar que a boca da minha secretaria, o saco.
Voltei correndo para o departamento.
- Senhor, aquele rapaz de ontem esteve aqui hoje de novo e o pessoal do sanatório disse que você precisa ir rápido.
Mal tive tempo de colocar todas aquelas informações no quadro...
- E meu apartamento?
- Limpo e arrumado.
Sai as pressas. Não tinha considerado isso, ainda.



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