11 de abr. de 2012

Apanhador só


                “É o seu norte que tá variando”
                O som do rádio tocava isso enquanto ela divagava ao picar a cebola para o molho do macarrão. Falava quase que sozinha com seu avental e a faca mal amolada, enquanto ele gozava de um raro momento de descanso sentado no tapete em frente ao Super Nintendo de 93. Não escutava o que ela dizia, até escutava, mas fingia que não.
                Sunset Riders era mais importante. Não que fosse, mas ele desligava ao ver aquela introdução. A mente esvaziava e o corpo relaxava.
Ela falava.
                Limpou a mão, desligou o som de maneira rápida e olhou para ele, com aquele olhar de raiva que murcharia fácil ramos grossos de arruda.
                “Me escuta?” “Tô ouvindo” “Acha que fiz certo?”
                Ele pausando o jogo com a mesma delicadeza de quem desarma uma bomba, dá um gole na cerveja gelada, deixa a garrafa suada no chão e encarando aqueles lindos olhos ciganos, diz para a moça de cabelos bagunçados e avental sujo: “Aham.”
                Ela sentindo-se mais calma volta ao prato principal. Ele sentindo-se mais aliviado volta ao jogo cantarolando: “Não é o prédio que tá caindo, são as nuvens que estão passando”

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