29 de set. de 2012

(In)Sônia



                Ele custa abrir os olhos, ela insiste em perguntar coisas aleatórias e falar do dia dela. Ele quer virar pro lado e dormir, se embalar ouvindo os carros que passam na avenida e acordar doze horas ou anos depois.
                Ela quer conversar. Falar da relação com a mãe, da melhor amiga, do vestido novo e da cirurgia que tá marcada pra semana que vem, ele só quer dormir.
                Ela fala incessante e ele sente as pálpebras cada vez mais pesadas, a voz dela vai tomando conta do ambiente e aos poucos é o único som que ele ouve. Como um mosquito que voa no quarto silencioso a procura de sangue. Aquele timbre em ondas vai entrando, o sotaque destaca e a vontade de bater no som, virar pro lado e dormir se torna praticamente incontrolável.
                Tão incontrolável que se manifesta. Espasmos.
                Ela dá um selinho na boca dele, vira pro lado dizendo boa noite e dorme rápido e ele fica com os olhos vidrados no teto procurando o sono que acabou de perder.

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