Ele
custa abrir os olhos, ela insiste em perguntar coisas aleatórias e falar do dia
dela. Ele quer virar pro lado e dormir, se embalar ouvindo os carros que passam
na avenida e acordar doze horas ou anos depois.
Ela
quer conversar. Falar da relação com a mãe, da melhor amiga, do vestido novo e
da cirurgia que tá marcada pra semana que vem, ele só quer dormir.
Ela
fala incessante e ele sente as pálpebras cada vez mais pesadas, a voz dela vai
tomando conta do ambiente e aos poucos é o único som que ele ouve. Como um
mosquito que voa no quarto silencioso a procura de sangue. Aquele timbre em
ondas vai entrando, o sotaque destaca e a vontade de bater no som, virar pro
lado e dormir se torna praticamente incontrolável.
Tão
incontrolável que se manifesta. Espasmos.
Ela
dá um selinho na boca dele, vira pro lado dizendo boa noite e dorme rápido e ele
fica com os olhos vidrados no teto procurando o sono que acabou de perder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário