É
como se a cada tragada, uma fumaça escura sufocasse. Não é a nicotina. O ciúme
é algo maior e mais forte, tão viciante quanto crack. Mesmo que ele soltasse, a
cada suspiro, um terço do sentimento tóxico que apertava o coração, a suave e
negra fumaça, oriunda de um sentimento possessivo, insistia em sufocar. Deixava
a vista turva.
A
alma tremia junto ao estômago.
O
corpo não se alimentava e, nem mais, sonhava. Sozinho. Era a zona de conforto.
Essa instigante e amedrontadora solidão era sua casa, ele dominava bem, afinal,
viveu toda uma vida assim, uma curta e breve vida, só, até ela surgir. Enfim, lar
doce lar. Mas ele sentiu vontade de não voltar, de dizer que amava, de prostrar
de joelhos diante daqueles grandes, e vermelhos, olhos cor de mel e dizer que
perdoava o que ela não sentia arrependimento em ter feito. Passar por cima de
algo que não gerou, sequer, uma leve brisa de mudança.
Lágrimas
de belas mulheres são e serão sempre contagiantes.
Toda
raiva do mundo se põe diante dos pés das mulheres que despertam, em canalhas, o
sentimento nobre. Ele era um canalha. Não havia feito feliz uma alma qualquer.
Mas a fumaça era muito densa, de maneira asfixiadoramente leve. Assim como o
amor.
Então,
o rapaz, julgado culpado, como de costume, lidava com a indiferença, as
lagrimas, sentimento, a fumaça, enquanto pensava consigo: “de todas as garotas
que eu tive, aquela pra quem eu abaixei a guarda deu o golpe final”
Ela
seguia como de costume. Não fez uma grande diferença em sua vida. Passou. Como
passa o trem no domingo, da mesma forma que um pássaro em busca do seu sol, no
verão. Pra ele, ficou. Até porque, mesmo que o fim seja inevitável, sempre,
acabamos, em algum momento, nos perguntando: Fiz a coisa certa?
Só
que a certeza está longe de ser alcançada por alguém.
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