"Foi quando
Volta Seca deixou o cavalo onde montara Lampião e veio para eles:
– Quer ver
uma coisa bonita?
Todos
queriam. O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e começou a música
de uma valsa antiga. O rosto sombrio de Volta Seca se abria num sorriso. Espiava
a pianola, espiava os meninos envoltos em alegria. Escutavam religiosamente
aquela música que saía do bojo do carrossel na magia da noite da cidade da
Bahia só para os ouvidos aventureiros e pobres dos Capitães da Areia. Todos
estavam silenciosos. Um operário que vinha pela rua, vendo a aglomeração de
meninos na praça, veio para o lado deles. E ficou também parado, escutando a
velha música. Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas brilharam
ainda mais no céu, o mar ficou de todo manso talvez que Yemanjá tivesse vindo
também ouvir a música e a cidade era como que um grande carrossel onde giravam
em invisíveis cavalos os Capitães da Areia. Neste momento de música eles
sentiram-se donos da cidade. E amaram-se uns aos outros, se sentiram irmãos
porque eram todos eles sem carinho e sem conforto e agora tinham o carinho e
conforto da música. Volta Seca não pensava com certeza em Lampião neste
momento. Pedro Bala não pensava em ser um dia o chefe de todos os malandros da
cidade. O Sem-Pernas em se jogar no mar, onde os sonhos são todos belos. Porque
a música saía do bojo do velho carrossel só para eles e para o operário que
parara. E era uma unidade valsa velha e triste, já esquecida por todos os
homens da cidade."
Jorge Amado
To lendo esse livro... :)
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