Talvez não tenha sido assim. Pode
ser que eu quisesse que tivesse acontecido assim. Não sei se começo descrevendo
a noite, a noite depois que nos encontramos ou ela.
Vou começar comigo.
Eu não estava bem. Até estava, se
comparado a outras situações, estava ótimo. Entediado. Não qualquer tipo de
tédio, era daqueles que aperta o peito, que vem com pitadas de ansiedade. Não
está acontecendo nada e é justamente esse o problema. Você quer que aconteça
alguma coisa.
Eu queria que acontecesse algo.
Momentos assim são perigosos,
extremamente perigosos. Qualquer coisa, por menor que seja, se torna algo
enorme.
Qualquer coisa.
Até mesmo ela. Não sei o seu
nome, sei que chegou – na verdade seu cheiro chegou primeiro, com suas botas –
um short meio curto mostrando as belas pernas de louça, brancas, lisas,
relativamente grossas. Um decote deixando a mostra de forma gratuita um pedaço,
nada, generoso daqueles lindos seios, sua tatuagem no antebraço, as unhas
negras como céu e uma boca carnuda realçada por um vermelho sangue. Sempre
odiei vermelho, mas naquele momento era cor que desejava mais que meu uísque.
Os cabelos loiros caindo nos ombros e olhos bem contornados com um preto
vibrante. O cheiro também veio, um cheiro de fêmea no cio, misturado com
perfume e vontade.
E eu ali, na mesa da frente com a
minha tradicional jaqueta de couro, botas em cima da cadeira, cigarro caído na
boca, o copo na mão, pau, cabeça e olhos nela.
Ela é do tipo que tem todas
aquelas qualidades superficiais de parar o transito, que nós, homens, tanto
procuramos. Eu, um aspirante, um qualquer com a mesma mulher, há anos, no
coração. Precisava de uma foda homérica.
Precisava de uma foda homérica
com ela.
Não tardou muito para que seu
cheiro espalhasse e atraísse mais cães.
Sentaram-se com ela.
Paparicavam-na, mimavam, adulavam. Nessas situações, caras como eu são
facilmente ignorados. Foi exatamente isso que começou a acontecer.
Na mesa comigo estava uma amiga,
uma amiga que chorava dores de um outro amor, de um outro carnaval.
Foi aí que o jogo começou.
Sorria e flertava com os caras,
eu beijava minha amiga. Beijava como se estivesse beijando a outra. Ganhei sua
atenção. Me olhava agora, hora de maneira fixa outras disfarçada. Mas olhava.
Cruzávamos olhares como animais fazem minutos antes do coito. O jogo ficava
sério.
Cervejas e doses mais tarde,
estava eu no banheiro, não exatamente no banheiro. Esperava a pessoa que entrou
primeiro, no único box, sair. Alguns minutos depois de uma boa mijada, lavo as
mãos e ao sair com a cabeça baixa bato de frente com ela.
A proximidade nesse momento foi
tanta, e o tempo passou tão devagar, que eu juro, podia sentir o cheiro do seu
batom, sua respiração quente na minha barba, e, com minhas mãos em sua
deliciosa cintura – para que não caísse para traz, claro – fitei aqueles belos
olhos que acompanhado de um sorriso sacana e uma voz aveludada dizia:
Cuidado...
Voltei a minha mesa e ela para
dela.
Os olhares se tornavam
constantes. A vontade ficava mais explicita e o flerte mais descarado. A noite
passava e o banheiro chamava, novamente. Na saída estava ela de novo, dessa vez
com um braço escorado na parede oposta a que estava seu corpo.
Não contive o sorriso ao ver
aquela boca sendo levemente mordida no canto esquerdo. Puxei-a pra junto e ela
já fechando os olhos se entregava ao tesão, até que escutamos minha amiga
chamar.
Voltamos.
Dessa vez em momentos diferentes.
Mas as horas corriam rápido e a madrugada ia longe. O bar fechou. O flerte
acabou. A cerveja acabou. A moça se foi e o tesão não se foi. Minha amiga não
se foi.
A vontade de pegar e dar a ela
aquilo que nunca deram, não se foi.
Sorte, ou não, temos amigos como
essa minha que não se importa de terminar a noite trepando como se não houvesse
amanhã, mesmo que haja.
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