2 de mai. de 2013

Sweet Virginia



                De volta ao tempo que se passa, entre uma dose e outra, existiu Virgínia. Loira. Cara blasé, talvez não mais que a minha, mas, sem duvida, um rosto entediado. Uma verdadeira tempestade. Deliciosa mistura de vento, paixão, fogo e toda parte seca que só goianos detém.
                Virgínia, não resta amigo algum para ajudar suas pobres vítimas.
                Já havia percorrido um pedaço de cerrado, e relacionamentos, quando me encontrei com ela. Na ocasião, eu tentava tirar um resto de merda das minhas botas, enquanto Virgínia acendia um cigarro. Escorada com os quadris na parede descascada, olhava hora o céu, hora o nada.
                Agradeço, aqui, todo o uísque que me foi dado no centro oeste.
                Como melhor amigo do homem, o uísque nos protege de grandes catástrofes. Virgínia deixava a defesa civil em estado de alerta. A cada trago, as ações da Marlboro subiam 2.0 na Bovespa. As roupas de brechó colocavam em cheque todo o investimento feito na São Paulo Fashion Week. Até mesmo fundamentalistas religiosos – e religiosas – sentiam melar as roupas de baixo ao cruzar com este ser.
                Um gole a mais enquanto o mormaço central fazia, até, o meu copo suar. Olhar caído. Insônia, uísque, cigarros e putas baratas.
                - Tem fogo?
                Como se precisasse responder. Aqueles olhos apagados escondiam um braseiro ardente entre meio as pernas. Tirei minha carteira amassada do bolso de trás do jeans, que costumava ser azul – e limpo – duas batidas convencionais, meu ultimo filtro vermelho na boca. Amanhã largo esta porcaria, juro!  Isqueiro personalizado.
                - É a querosene?
                - Não. Uso diesel.
                Como se eu me importasse. Com cicatrizes se curando, encontrar a doce Virgínia é o mesmo que pegar aquela prima beata, que só faz papai e mamãe meia boca e boquete com dentes, não é um grande feito.
                Um assunto leva ao outro e aí estamos nus. Ela enfia suas unhas na minha carne enquanto estoco o pau no fundo. Este seria o meio da história, e, o meio termina quando eu me levanto, pego uma cerveja na geladeira, Virgínia dorme como uma drogada. Talvez a reencarnação de Nancy, mais sexy, ardente. Limpa.
                E o fim é este: Novamente na beira da calçada de algum lugar, tentando tirar a merda das botas, com cicatrizes mal curadas, cigarro na boca, uísque na alma e uma boa lembrança da doce Virgínia.
                Talvez por isso ela ainda seja este deserto. Não é possível se conhecer alguém em uma noite. A lembrança não virginal fala mais alto que a realidade. A maresia do uísque embaça as vistas e confunde a memória. Virgínia, hoje, deve viver com algum contador comportado, sem tatuagens. Ou está por aí, a destruir homens e meninos. Como toda boa catástrofe.

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